Olá! Sejam BEM-VIND@S!!! Em razão da minha cegueira desenvolvi uma metodologia específica de ensino, pautada na oralidade e audiodescrições, na qual utilizo, diversos recursos de mídia para preparar, organizar e ministrar aulas, dentre eles, está este blog, onde irei compartilhar de forma gratuita e acessível conteúdos relacionados a Artes e cultura com você!
terça-feira, 8 de março de 2016
Lygia Pimentel Lins: arte e participação do público
Lygia Pimentel Lins nasceu em Belo Horizonte MG em 1920. Pintora e escultora.
Muda-se para o Rio de Janeiro, em 1947, e inicia aprendizado artístico com Burle Marx
(1909-1994). Entre 1950 e 1952, vive em Paris, onde estuda com
Fernand Léger (1881-1955), Arpad Szenes
(1897-1985) e Isaac Dobrinsky (1891-1973). De volta para o
Brasil, integra o Grupo Frente,
liderado por Ivan Serpa
(1923-1973). É uma das fundadoras do Grupo
Neoconcreto e participa da sua primeira exposição, em 1959.
Gradualmente, troca a pintura pela experiência com objetos tridimensionais.
Realiza proposições participacionais como a série Bichos, de 1960,
construções metálicas geométricas que se articulam por meio de dobradiças e
requerem a co-participação do espectador. Nesse ano, leciona artes plásticas no
Instituto Nacional de Educação dos Surdos. Dedica-se à exploração sensorial em
trabalhos como A Casa É o Corpo, de 1968. Participa das exposições
Opinião 66 e Nova
Objetividade Brasileira, no Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro (MAM/RJ). Reside em Paris entre 1970 e 1976, período em que
leciona na Faculté d´Arts Plastiques St. Charles, na Sorbonne. Nesse período
sua atividade se afasta da produção de objetos estéticos e volta-se, sobretudo
para experiências corporais em que materiais quaisquer estabelecem relação
entre os participantes. Retorna para o Brasil em 1976; dedica-se ao estudo das
possibilidades terapêuticas da arte sensorial e dos objetos relacionais. Sua
prática fará que no final da vida a artista considere seu trabalho
definitivamente alheio à arte e próximo à psicanálise. A partir dos anos 1980
sua obra ganha reconhecimento internacional com retrospectivas em várias
capitais internacionais e em mostras antológicas da arte internacional do
pós-guerra. Lygia Clark trabalha com instalações e body art. Em 1954, incorpora como elemento
plástico a moldura em suas obras como, por exemplo, em Composição
nº 5. Suas pesquisas voltam-se para a "linha orgânica", que
aparece na junção entre dois planos, como a que fica entre a tela e a moldura.
Entre 1957 e 1959, realiza composições em preto-e-branco, formadas por placas
de madeira justapostas, recobertas com tinta industrial aplicada a pistola, nas
quais a linha orgânica se evidencia ou desaparece de acordo com as cores
utilizadas.
Para
a pesquisadora de arte Maria Alice Milliet, Lygia Clark é entre os
artistas vinculados ao concretismo, quem melhor compreende as
relações espaciais do plano. A radicalidade com que explora as potencialidades
expressivas dos planos, leva-a a desdobrá-los, como nos Casulos (1959),
que são compostos de placas de metal fixas na parede, dobradas de maneira a
criar um espaço interno. No mesmo ano, participa da 1ª Exposição Neoconcreta. O neoconcretismo define-se como tomada de
posição com relação à arte concreta exacerbadamente racionalista e é formado
por artistas que pretendem continuar a trabalhar no sentido da experimentação,
do encontro de soluções próprias, integrando autor, obra e fruidor. Inicia, em
1960, os Bichos, obras constituídas por placas de metal polido
unidas por dobradiças, que lhe permitem a articulação. As obras são inovadoras:
encorajam a manipulação do espectador, que conjugada à dinâmica da própria
peça, resulta em novas configurações. Em 1963, começa a realizar os Trepantes,
formados por recortes espiralados em metal ou em borracha, como Obra-Mole (1964),
que, pela maleabilidade, podem ser apoiados nos mais diferentes suportes
ocasionais como troncos de madeira ou escada.
Sua
preocupação volta-se para uma participação ainda mais ativa do público.Caminhando (1964)
é a obra que marca essa transição. O participante cria uma fita de Moebius August Ferdinand Moebius (1790-1868), matemático alemão: corta uma faixa de
papel, torce uma das extremidades e une as duas pontas. Depois a recorta no
comprimento de maneira contínua e, na medida em que o faz, ela se desdobra em
entrelaçamentos cada vez mais estreitos e complexos. Experimenta um espaço sem
avesso ou direito, frente ou verso, apenas pelo prazer de percorrê-lo e, dessa
forma, ele mesmo realiza a obra de arte. Inicia então trabalhos voltados para o
corpo, que visam ampliar a percepção, retomar memórias ou provocar diferentes
emoções. Neles, o papel do artista é de propositor ou canalizador de
experiências. Por exemplo, em Luvas Sensoriais (1968) dá-se a
redescoberta do tato por meio de bolas de diferentes tamanhos, pesos e texturas
e em O Eu e o Tu: Série Roupa-Corpo-Roupa (1967), um casal
veste roupas confeccionadas pela artista, cujo forro comporta materiais
diversos. Aberturas na roupa proporcionam, pela exploração táctil, uma sensação
feminina ao homem e à mulher uma sensação masculina. A instalação A
Casa É o Corpo: Labirinto (1968) oferece uma vivência sensorial e
simbólica, experimentada pelo visitante que penetra numa estrutura de 8 metros
de comprimento, passando por ambientes denominados "penetração",
"ovulação", "germinação" e "expulsão".
Entre
1970 e 1975, nas atividades coletivas propostas por Lygia Clark na Faculté
d'Arts Plastiques St. Charles, na Sorbonne, a prática artística é entendida
como criação conjunta, em transição para a terapia. Em Túnel (1973)
as pessoas percorrem um tubo de pano de 50 metros de comprimento, onde às
sensações de claustrofobia e sufocamento contrapõe-se a do nascimento, por meio
de aberturas no pano, feitas pela artista. Já Canibalismo e Baba
Antropofágica (ambos de 1973) aludem a rituais arcaicos de
canibalismo, compreendido como processo de absorção e de ressignificação do
outro. No primeiro acontecimento, o corpo de uma pessoa deitada é coberto de
frutas, devoradas por outras de olhos vendados; e, no segundo, os participantes
levam à boca carretéis de linha, de várias cores e lentamente os desenrolam com
as mãos para recobrir o corpo de uma pessoa que está deitada no chão. No final,
todos se emaranham com os fios. A partir de 1976, dedica-se à prática
terapêutica, usando Objetos Relacionais, que podem ser, por
exemplo, sacos plásticos cheios de sementes, ar ou água; meias-calças contendo
bolas; pedras e conchas. Na terapia, o paciente cria relações com os objetos,
por meio de sua textura, peso, tamanho, temperatura, sonoridade ou movimento.
Eles permitem-lhe reviver, em contexto regressivo, sensações registradas na
memória do corpo, relativas a fases da vida anteriores à aquisição da
linguagem.
A
poética de Lygia Clark caminha no sentido da não representação e da superação
do suporte. Propõe a desmistificação da arte e do artista e a desalienação do
espectador, que finalmente compartilha a criação da obra. Na medida em que
amplia as possibilidades de percepção sensorial em seus trabalhos, integra o
corpo à arte, de forma individual ou coletiva. Finalmente, dedica-se à
prática terapêutica. Para Milliet, a artista destaca-se sobretudo por sua
determinação em atravessar os territórios perigosos da arte e da terapia.
sábado, 5 de março de 2016
sexta-feira, 4 de março de 2016
Arte sacra e arte religiosa
A arte sacra é algo feito do
ser da Igreja, da profundeza do ser cristão, é uma continuidade da liturgia e
da celebração cristã e se põe a serviço da Igreja. A função da arte sacra é
testemunhar a fé em Jesus Cristo. Ela é a visualização plástica do evangelho, a
confirmação viva das doutrinas da igreja, e por isso, nos aproxima mais do
verdadeiro sentido de ser um cristão.
A arte sacra tem uma função
educativa, a obra de arte é um fenômeno comunicativo, tem como objetivo
expressar uma verdade que vai além do racional, do conhecido, do humano. Seu
objetivo é celebrar com a comunidade. Não é apenas a expressão do artista, mas
de toda a comunidade na qual ele está inserido e a qual sua arte serve. É uma
arte simbólica e centrada na fé em cristo. Suas formas são simples, cruas, as
cores são chapadas e sem nuances, sem efeitos especiais. É expressão de algo
maior, não cabe em si mesma. A arte sacra é meio e não fim. Não tem o objetivo
de ser o centro, o fim em si mesmo, ao contrário, sabe que serve a algo maior.
Não é antropológica, nem lírica, nem acadêmica. A arte sacra não serve para
decorar a sala de uma casa, por exemplo.
Arte religiosa pode ser
qualquer estátua ou pintura de algum santo feita, com o objetivo de ser um mero
acessório em uma igreja, nunca a obra principal. A arte religiosa está ligada a
imagens de devoção. A imagem de devoção nasce da vida interior do indivíduo
crente e embora se refira a Deus ela pode servir para decoração, por exemplo, a
arte do grafite em muros de prédios, casas, etc., públicos ou privados, a arte
da tatuagem, pinturas, esculturas, gravuras, desenhos, etc.
A arte sacra está ligada a
imagens de culto, enquanto a arte religiosa está ligada a imagens de devoção. A
imagem de devoção nasce da vida interior do indivíduo crente e embora se refira
a Deus o faz com conteúdo humano. A imagem de culto dirige-se à transcendência,
enquanto a imagem de devoção surge da imanência. Na imagem de culto, Deus se
manifesta e o homem emudece, contempla, reza.
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