Assim como outros movimentos artísticos do período posterior à Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o purismo propõe pensar os caminhos abertos à arte pelo cubismo. Surge oficialmente em 1918 com a publicação do livro Après le cubisme, redigido pelo pintor francês Amédée Ozenfant (1886-1966) e pelo pintor, escultor e arquiteto suíço Charles-Edouard Jeanneret, (1887-1965), mais conhecido como Le Corbusier. Principais teóricos do movimento, esses artistas criticam a transformação do cubismo em uma forma elaborada de decoração e reclamam a volta a uma arte "saudável", baseada na clareza e na objetividade, numa verdadeira e apaixonada defesa da "ordem". Ambicioso, o purismo tem uma vida breve (cerca de oito anos) e somente através do trabalho de arquitetura e de design atinge uma ampla reputação internacional. As declarações entusiasmadas dos puristas são veiculadas na revista de vanguarda L'Esprit nouveau (1920-1925), fundada por Ozenfant, Corbusier e pelo poeta Paul Dermée e que conta com a colaboração, em seus 28 números, de diversos artistas e intelectuais como Maurice Raynal, Pierre Reverdy, Blaise Cendrars (1887-1961), Fernand Léger (1881-1955), entre outros.
Segundo os puristas, existe no homem uma necessidade atemporal e que se faz presente na arte em diversos períodos: uma ordem imutável e essencial que responde ao desejo humano de encontrar o equilíbrio. Assim como a ciência, a arte é capaz de trazer à tona de forma clara e precisa fundamentos imutáveis que levem à proporção e harmonia do espírito, e conseqüentemente, à felicidade. Para atingir seus propósitos, inspiravam-se nas formas das máquinas e defendiam o uso das fórmulas numéricas clássicas. Nesse sentido, o purismo aproxima-se do humanismo renascentista, na medida em que acredita nas leis da harmonia fundadas na proporção como verdadeiras leis da vida.
Também a noção de funcionalismo na pintura, na arquitetura, no design e na engenharia tal como apresentada por Ozenfant e Corbusier é pensada em termos humanistas. O corpo humano e o desenvolvimento de seus órgãos encontra-se na origem da busca por objetos ou construções que respondam às necessidades funcionais do organismo e o completem, estabelecendo uma relação de harmonia com o homem. A idéia de função defendida pelos puristas vai além de sua compreensão enquanto utilidade. Uma construção só é realmente funcional quando, além da utilidade, é plasticamente harmoniosa em suas proporções. O funcionalismo humanista dos puristas crê na precisão, na simplicidade e na harmonia proporcional como qualidades estéticas.
A beleza da eficiência funcional, a importância da razão na arte, o valor da precisão, a ênfase no essencial e coletivo, são ideais modernos partilhados pelo purismo e por outros movimentos como o construtivismo e o De Stijl. Contudo, na produção pictórica os puristas negam a abstração geométrica. Para eles, que retomam muitos dos temas cubistas em suas telas, como objetos do cotidiano e instrumentos musicais, a pintura deve se empenhar em construir objets types (objetos exemplares ou padrão) inspirados na natureza e nas produções humanas, inclusive nas máquinas. Como afirma Corbusier, em 1924, "graças à máquina, à identificação daquilo que é típico, ao processo de seleção, à implantação de um padrão, um novo estilo se afirmará". Esse novo estilo é apresentado em 1925 em Paris no pavilhão Esprit Nouveau, por ocasião da Exposição de Artes Decorativas. A casa purista de dois andares projetada pelo arquiteto suíço contém esculturas de Henri Laurens (1885-1954) e Jacques Lipchitz (1891-1973), alguns objets types produzidos industrialmente, pinturas puristas e mobiliário de madeira de Thonet. Tanto o espaço quanto seus elementos de decoração caracterizam-se pela total falta de ornamentação.
Em geral, as pinturas puristas apresentam formas com contornos bem definidos, em cores lisas e rebaixadas, de profundidade e perfil, construídas com extrema simplicidade e precisão geométrica. Nota-se que essa pintura purista de acabamento impessoal, divorciada de toda emoção e expressividade, não se estabelece como escola pictórica e não alcança grande popularidade em Paris. Os principais frutos do purismo são encontrados na arquitetura de Le Corbusier. Seu livro Por uma arquitetura (1923) encontra ampla difusão. No Brasil, as idéias e a presença do arquiteto no país em 1936, como participante do anteprojeto para o Ministério da Educação e Saúde - MES no Rio de Janeiro, são decisivas para a formação da arquitetura moderna brasileira. No entanto, a influência desse movimento é ainda mais forte na produção de artistas e críticos, como Tarsila do Amaral e Mário de Andrade.