A arte barroca chegou ao
Brasil por meio da Companhia de Jesus (Minas Gerais).
No Brasil o barroco possuiu características
singulares, nasceu mestiço como seus criadores, com influências culturais,
históricas e sociais de Portugal e do Brasil. Muitas vezes seu esplendor se esconde
no interior das pequenas igrejas de paredes de taipa, quadradas e brancas,
revelando-se com impacto quando se abrem as portas.
Com a ocupação do território brasileiro, houve também
a instalação das ordens religiosas e o surgimento das vilas e cidades litorâneas.
Os primeiros templos seguiam diretamente o modelo cultural europeu. Neles utilizavam-se
modelos arquitetônicos e peças construtivas e decorativas trazidas diretamente
de Portugal. No entanto, não configura, absolutamente, falta de originalidade nas
expressões artísticas dessa nova sociedade. Os Estados da Bahia, Pernambuco,
Rio de Janeiro,
São Paulo e Rio Grande do Sul receberam a influência
do barroco, mas foi em Minas que o estilo teve seu apogeu. A descoberta de ouro
e diamante em Minas Gerais, em fins do século XVII e início do XVIII, provocou
uma corrente migratória sem precedentes na história da colonização brasileira,
deslocando, para o interior, a atenção dos colonizadores portugueses, até então
concentrada no litoral. A fim de fiscalizar a saída do ouro e controlar as populações
locais, a Coroa proibiu a entrada de ordens religiosas no território mineiro, o
que gerou uma cultura sem grandes raízes às tradições religiosas. Sendo assim,
a arquitetura barroca em Minas Gerais adotou uma estética peculiar, uma vez que
não havia os conventos e colégios das grandes ordens religiosas. Além disso, a
distância do litoral e as dificuldades de importação de materiais vão dar ao
Barroco Mineiro uma expressão particular
marcada pelo regionalismo. Nesse contexto, a sociedade
se torna mais flexível, menos rígida com os artistas mulatos e caboclos, o que,
consequentemente, faz surgir artistas leigos, incluindo mestiços nascidos na
própria colônia, mais independentes que seus antecessores. É nesse sentido que
o Barroco desenvolvido em Minas Gerais ganhou expressão particular no contexto brasileiro,
firmando-se como um estilo diferenciado. As primeiras aglomerações que se formaram
para a exploração do ouro geravam capelas menores, pautadas pela simplicidade
das formas arquitetônicas. Todavia, os interiores apresentavam grande riqueza
decorativa. Entre essas, o mais sugestivo exemplar é a Capela de Nossa Senhora
do Ó, em Sabará. Em contraponto à chanfrada muito simples, o interior deslumbra
com o conjunto de talhas, painéis pintados e decorações em “chinesices” a ouro
sobre fundo de cores quentes, decorrentes da vinda de jesuítas portugueses
provenientes de Macau, colônia portuguesa na China. Em Ouro Preto, encontra-se
outra construção com características similares. Trata-se da Capela de Nossa Senhora
do Rosário, conhecida popularmente como Capela do Padre Faria, na qual se nota
um exterior bastante simples. Porém, seus altares - o altar-mor e dois laterais
- encontram-se entalhados e decorados em belíssima policromia dourada.
A partir das décadas de 1730-40, um novo estilo surge
na talha mineira, direcionado ao gosto de D. João V. É a vez dos retábulos
estruturados por colunas torsas arrematado por dosséis e com presença sólida de
anjos, meninos e elementos escultóricos; revestimento em talha dourada e
policromia em azul, vermelho e branco. Nesse grupo, inserem-se as matrizes de
Nossa Senhora do Pilar e Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, ambas em
Ouro Preto. Na segunda metade do setecentos, há uma caracterização da
modificação dos retábulos, isto é, o desaparecimento dos dosséis e maior
harmonia dos ornatos. Nesse momento, entra em cena Antônio Francisco Lisboa, o
Aleijadinho (1738-1814), como arquiteto, entalhador e santeiro, deixando um importante
legado de arte rococó. Os retábulos não tiveram padrão único, diversificando-se
às preferências dos artistas e ao gosto das irmandades que encomendavam as
obras. Uma característica marcante das igrejas do Rococó Mineiro são as amplas
pinturas ilusionistas dos tetos, que, juntamente com o retábulo principal, funcionam
como focos prioritários de atenção, atraindo o olhar ao se deslocar no recinto
da nave. Destaca-se, nesse período, a Igreja de São Francisco de Assis de Ouro
Preto, a qual, além dos trabalhos de Aleijadinho, possui trabalhos de pintura e
douramentos de Manuel da Costa Ataíde - Mestre Ataíde (1762-1837). Os templos
mineiros estão povoados por imagens sacras de Barroco-Rococó, ora vindas
diretamente de Portugal, ora executadas na colônia por santeiros anônimos ou
por mestres identificados como Aleijadinho, Francisco Xavier de Brito, entre
outros. As escolas de pintura mineira, quase sempre
compostas por pintores mulatos, criaram mais de cem abóbadas
de foros policromados, que vão da perspectiva barroca ao rococó, contando com
nomes como Manoel da Costa Ataíde, João Nepomuceno Correia e Castro, entre
outros.
Muitos foram os artistas que contribuíram para o engrandecimento
do Barroco no Brasil. Quando o estilo já estava concatenado ao contexto
nacional, apareceram, justamente em Minas Gerais, duas figuras célebres que o levaram
ao auge e que iluminaram também o seu fim como corrente estética dominante:
Aleijadinho, na arquitetura e na escultura, e, na pintura, Mestre Ataíde. O
amarelo, o ouro e o sol simbolizam a união da alma de Deus, a luz revelada aos
profanos, sendo o amarelo, o ouro e o sol, os três graus dessa revelação. Mesmo
sendo o ouro um metal, consolida-se na prática da iconografia. Se as cores se
expressam como a luz refletida, traria o simbolismo de ser a própria luz; pura e
genuína. As cores têm um papel fundamental na iconografia; sua função não fica
apenas no âmbito estilístico, mas deve levar um simbolismo atrelado à imagem a
qual retrata. Ataíde faz viverem cores e imagens. As cores com que são pintados
os altares, as figuras e imagens representam uma importância fundamental para a
compreensão dos símbolos e para que se possa entender o tema da composição.
Dessa forma, podemos assinalar o significado que trazem consigo as duas cores
mais utilizadas por Ataíde: o vermelho e o azul. O vermelho é, na iconografia
barroca, o amor, a caridade, a adoração a Deus, temor, proteção e êxtase diante
do infinito desconhecido. É, ainda, martírio, sofrimento, realeza, poder
absoluto.
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