O termo surrealismo, foi criado por André Breton com base na
ideia de estado de fantasia supernaturalista de Guillaume Apollinaire, traz um
sentido de afastamento da realidade comum que o movimento surrealista celebra
desde seu primeiro manifesto em 1924.
André Breton, autor do manifesto, o objetivo do manifesto é resolver
a contradição entre sonho e realidade pela criação de uma realidade absoluta,
uma supra-realidade. A importância do mundo onírico, do irracional e do
inconsciente, anunciada no texto, se relaciona diretamente ao uso livre que os
artistas fazem da obra de Sigmund Freud e da psicanálise, permitindo-lhes explorar
nas artes o imaginário e os impulsos ocultos da mente.
O caráter anti-racionalista do surrealismo coloca-o em
posição diametralmente oposta das tendências construtivas e formalistas na arte
que florescem na Europa após a Primeira Guerra Mundial, 1914-1918, e das
tendências ligadas ao chamado retorno à ordem. Como vertente crítica de origem
francesa, o surrealismo aparece como alternativa ao cubismo, alimentado pela
retomada das matrizes românticas francesa e alemã, do simbolismo, da pintura
metafísica italiana Giorgio de Chirico, principalmente - e do caráter
irreverente e dessacralizador do dadaísmo, do qual vem parte dos surrealistas.
Como o movimento dada, o surrealismo apresenta-se como crítica cultural mais
ampla, que interpela não somente as artes mas modelos culturais, passados e
presentes.
Na contestação radical de valores que empreende, faz uso de
variados canais de expressão - revistas, manifestos, exposições e outros -,
mobiliza diferentes modalidades artísticas como escultura, literatura, pintura,
fotografia, artes gráficas e cinema.
A crítica à racionalidade burguesa em favor do maravilhoso,
do fantástico e dos sonhos reúne artistas de feições muito variadas. Na
literatura, além de Breton, Louis Aragon, Philippe Soupault, Georges Bataille,
Michel Leiris, Max Jacob entre outros. Nas artes plásticas, René Magritte,
André Masson, Joán Miró, Max Ernst, Salvador Dalí, e outros.
Na fotografia, Man Ray, Dora Maar, Brasaï. No cinema, Luis
Buñuel. Certos temas e imagens são obsessivamente tratados por eles, com
soluções distintas, como, por exemplo, o sexo e o erotismo; o corpo, suas
mutilações e metamorfoses; o manequim e a boneca; a violência, a dor e a
loucura; as civilizações primitivas; e o mundo da máquina. Esse amplo
repertório de temas e imagens encontra-se traduzido nas obras por procedimentos
e métodos pensados como capazes de driblar os controles conscientes do artista,
portanto, responsáveis pela liberação de imagens e impulsos primitivos.
A escrita e a pintura automáticas, fartamente utilizadas,
são formas de transcrição imediata do inconsciente, pela expressão do
funcionamento real do pensamento como, os desenhos produzidos coletivamente
entre 1926 e 1927 por Man Ray, Yves Tanguy, Miró e Max Morise, com o título O
Cadáver Requintado). A frottage [fricção] desenvolvida por Ernst faz parte das
técnicas automáticas de produção. Trata-se de esfregar lápis ou crayon sobre
uma superfície áspera ou texturizada para "provocar" imagens,
resultados aleatórios do processo, como a série de desenhos História Natural,
realizada entre 1924 e 1927.
As colagens e assemblages constituem mais uma expressão
caraterística da lógica de produção surrealista, ancorada na idéia de acaso e
de escolha aleatória, princípio central de criação para os dadaístas. A célebre
frase de Lautréamont é tomada como inspiração forte: Belo como o encontro
casual entre uma máquina de costura e um guarda-chuva numa mesa de dissecção.
A sugestão do escritor se faz notar na justaposição de
objetos desconexos e nas associações à primeira vista impossíveis, que
particularizam as colagens e objetos surrealistas. Que dizer de um ferro de
passar cheio de pregos, de uma xícara de chá coberta de peles ou de uma bola
suspensa por corda de violino? Dalí radicaliza a idéia de libertação dos instintos
e impulsos contra qualquer controle racional pela defesa do método da paranóia
crítica, forma de tornar o delírio um mecanismo produtivo, criador.
A crítica cultural empreendida pelos surrealistas, baseada
nas articulações arte/inconsciente e arte/política, deixa entrever sua ambição
revolucionária e subversiva, amparada na psicanálise - contra a repressão dos
instintos - e na idéia de revolução oriunda do marxismo (contra a dominação
burguesa). As relações controversas do grupo com a política aparecem na adesão
de alguns ao trotskismo (Breton, por exemplo) e nas posições reacionárias de
outros, como Dalí.
A difusão do surrealismo pela Europa e Estados Unidos faz-se
rapidamente. É possível rastreá-lo em esculturas de artistas díspares como
Alberto Giacometti, Alexander Calder, Hans Arp e Henry Spencer Moore.
Na Bélgica, Romênia e Alemanha ecos surrealistas vibram em
obras de Paul Delvaux, Victor Brauner e Hans Bellmer, respectivamente. Na
América do Sul e no Caribe, o chileno Roberto Matta e o cubano Wifredo Lam
devem ser lembrados como afinados com o movimento.
Nos Estados Unidos, o surrealismo é fonte de inspiração para
o expressionismo abstrato e a arte pop.
No Brasil especificamente o surrealismo reverbera em obras
variadas como as de Ismael Nery e Cicero Dias, assim como nas fotomontagens de
Jorge de Lima. Nos dias atuais artistas continuam a tirar proveito das lições
surrealistas.
FONTES DE PESQUISA
ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos
movimentos contemporâneos. Tradução Denise Bottmann, Frederico Carotti. São
Paulo: Companhia das Letras, 1992.
FER, Briony, BATCHELOR, David, WOOD, Paul. Realismo,
Racionalismo, Surrealismo: a arte no entre-guerras. Tradução Cristina Fino. São
Paulo: Cosac & Naify, 1998. (Arte Moderna : práticas e debates, 3).
SURREALISMO . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e
Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3650/surrealismo>. Acesso
em: 09 de Jul. 2019.
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