O neoclassicismo foi um movimento cultural do século XVIII e
início do século XIX que defende a retomada da arte antiga em específico, a
arte greco-romana, considerada modelo de equilíbrio, clareza e proporção. O
movimento, de grande expressão na escultura, pintura e arquitetura, recusa a
arte imediatamente anterior - o barroco e o rococó, associada ao excesso, à
desmedida e aos detalhes ornamentais. À sinuosidade dos estilos anteriores, o
neoclassicismo opõe a definição e o rigor formal. Contra uma concepção de arte
de atmosfera romântica, apoiada na imaginação e no virtuosismo individual, os
neoclássicos defendem a supremacia da técnica e a necessidade do projeto -
leia-se desenho - a comandar a execução da obra, seja a tela ou o edifício.
A isso liga-se a defesa do ensino da arte por meio de regras
comunicáveis, o que se efetiva nas academias de arte, valorizadas como locus da
formação do artista. O entusiasmo pela arte antiga, a recuperação do espírito
heróico e dos padrões decorativos da Grécia e Roma se beneficiam da pesquisa
arqueológica (das descobertas das cidades de Herculano em 1738 e Pompéia em
1748) e da obra dos alemães radicados na Itália, o pintor Anton Raphael Mengs
(1728 - 1779) e o historiador da arte e arqueólogo Joachim Johann Winckelmann
(1717 - 1768), principal teórico do neoclassicismo. A edição em 1758 de Ruínas
dos Mais Belos Monumentos da Grécia, de J.-D. Le Roy e de A Antiguidade de
Atenas (1762), dos ingleses James Stuart e Nicholas Revett, evidenciam a
intensidade da retomada greco-romana.
A escultura neoclássica tem em Roma o seu centro irradiador,
nas versões de Antonio Canova (1757 - 1822), Bertel Thorvaldsen (1770 - 1844) e
John Flaxman (1755 - 1826). Teseu e o Minotauro (1781 - 1783) é considerada a
primeira grande obra de Canova, seguida pela sepultura do papa Clemente XIV, na
Igreja dos Santos Apóstolos (1783 - 1787). Ainda que amparada em modelos
semelhantes, a escultura de Thorvaldsen é vista como oposta a de Canova pelo
acento no volume em detrimento do movimento e luz. A fama internacional de
Flaxman advém das gravuras para a Ilíada e a Odisséia (1793).
Na pintura, o epicentro do neoclassicismo desloca-se para a
França. Ali, diante da Revolução Francesa, o modelo clássico adquire sentido
ético e moral, associando-se a alterações na visão do mundo social, flagrantes
na vida cotidiana, na simplificação dos padrões decorativos e na forma
despojada dos trajes. A busca de um ideal estético da Antiguidade vem
acompanhada da retomada de ideais de justiça e civismo, como mostram as telas
do pintor Jacques-Louis David (1748 - 1825), que exercita seu estilo a partir
de suas estadas na Itália em 1774 e 1784 e do exemplo dos pintores franceses de
Nicolas Poussin (1594 - 1665) e Claude Lorrain (1600-1682). A dicção austera
das composições de David - ao mesmo tempo simples e grandiloquentes - despidas
de ornamentos e detalhes irrelevantes, nas quais as cores são circunscritas
pelos traços firmes do contorno, tornar-se-á sua marca caraterística. O
Juramento dos Horácios (1784) e A Morte de Socrátes (1787) são exemplos nítidos
da gramática neoclássica empregada pelo pintor francês, em que convivem o
equilíbrio e precisão das formas. Pintor da Revolução Francesa (A Morte de
Marat, 1793), David foi também defensor de Napoleão (Coroação de Napoleão,
1805-1807). Nos dois momentos, a França encena os modelos da Roma Republicana e
da Roma Imperial, tanto na arte quanto na vida social, pela recusa do estilo
aristocrático anterior.
A Revolução Francesa, a proeminência da burguesia e o início
da Revolução Industrial na Inglaterra modificam radicalmente a posição do
artista na sociedade. A arte passa a responder a necessidades sociais e
econômicas. A construção de edifícios públicos - escolas, hospitais, museus,
mercados, cárceres etc. - e as intervenções no traçado das cidades evidenciam a
exigência de racionalidade que a arquitetura e a urbanística, nova ciência da
cidade, almejam. A defesa da racionalização dos espaços é anunciada por
arquitetos como Étienne-Louis Boullée (1728 - 1799) e Claude-Nicolas Ledoux
(1736 - 1806), que traduzem os anseios napoleônicos de transformar arquiteturas
e estruturas sociais, com ênfase na função das edificações. Tal ideário
origina, paradoxalmente, projetos e construções "visionárias", como
os edifícios em forma de esfera (Casa dos Guardas Campestres, 1780, de Ledoux).
Após a revolução, a arquitetura neoclássica teve papel destacado na formação do
estilo burguês imperial, presente, entre outros, na Rua de Rivoli e no Arc du
Carrousel em Paris.
Reverberações do neoclassicismo se observam em toda a
Europa. Todas as nações e cidades, afirma o historiador italiano Giulio Carlo
Argan, têm uma fase neoclássica, relacionada à vontade de reformas e de
planejamento racional correspondentes às transformações sociais em curso.
As dificuldades de aclimatação do modelo neoclássico no
Brasil vêm sendo apontadas pelos estudiosos, por meio de análises das obras de
Nicolas Taunay (1755 - 1830) e Debret (1768 - 1848), entre outros. Na
arquitetura, a antiga Alfândega, hoje Casa França-Brasil, e o Solar Grandjean
de Montigny, atualmente pertencente à Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro - PUC/RJ, constituem exemplos de construção neoclássica no país.
Fontes de pesquisa
ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos
movimentos contemporâneos. Tradução Denise Bottmann, Frederico Carotti. São
Paulo: Companhia das Letras, 1992.
CHASTEL, André. A arte italiana. Tradução de Antonio de
Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
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