A arte ambiente ou ambiental não faz referência a um movimento artístico particular, mas sinaliza uma tendência da arte contemporânea que se volta mais decididamente para o espaço - incorporando-o à obra e/ou transformando-o -, seja ele o espaço da galeria, o ambiente natural ou as áreas urbanas. Diante da expansão da obra no espaço, o espectador é convocado a se colocar dentro dela, experimentando-a; não como observador distanciado, mas parte integrante do trabalho. A noção de arte ambiente entra no vocabulário da crítica nos anos 1970 com sentido amplo, designando obras e movimentos variados. A elasticidade do termo gera ambiguidades incontornáveis. Afinal, quais são os limites que distinguem com clareza a arte ambiental, as assemblages, certos trabalhos minimalistas e as instalações? O contexto artístico a informar as novas experiências com o ambiente refere-se ao desenvolvimento da arte pop, do minimalismo e da arte conceitual que tomam a cena norte-americana das décadas de 1960 e 1970, desdobrando-se em instalações, performances, happenings, arte processual, land art, videoarte etc. Essas novas orientações partilham um espírito comum: são, cada qual ao seu modo, tentativas de dirigir a criação artística às coisas do mundo, à natureza, à realidade urbana e ao mundo da tecnologia. As obras articulam diferentes linguagens - dança, música, pintura, teatro, escultura, literatura etc. -, desafiando as classificações habituais, colocando em questão o caráter das representações artísticas e a própria definição de arte. Interpelam criticamente também o mercado e o sistema de validação da arte.
O minimalismo é referência fundamental para a compreensão do movimento da arte em direção ao ambiente, na medida em que o objeto de arte só se realiza integralmente do ponto de vista e experiência do observador. Ao alterar a relação da obra com o espaço circundante, esses trabalhos prenunciam o que viria a ser denominado instalação: construção que lança as obras no espaço na tentativa de construir ambiente ou cena, cujo movimento está dado pela relação entre os objetos, o ponto de vista e o corpo do observador. Para a apreensão da obra é preciso percorrê-la, passar entre suas dobras e aberturas, ou simplesmente caminhar pelas veredas e trilhas que ela constrói pela disposição das peças e cores. Destaca-se, entre outros, Labirinto (1974), de Robert Morris (1931) e Stone Field Sculpure (1977), que Carl André (1935) constrói ao ar livre.
A land art inaugura uma nova relação com o ambiente natural. Não mais paisagem a ser representada nem manancial de forças passível de expressão plástica, a natureza é o lugar onde a arte se enraíza. O espaço físico - desertos, lagos, canyons, planícies e planaltos - apresenta-se como campo onde os artistas realizam intervenções, como em Double Negative (1969), em que Michael Heizer (1944) abre grandes fendas no topo de duas mesetas do deserto de Nevada, ou em Spiral Jetty (1971), que Robert Smithson (1938-1973) constrói sobre o Great Salt Lake, em Utah. The Lightning Field (1977), de Walter de Maria (1935), é outro exemplo emblemático: num imenso plateau ao sul do Novo México, o artista finca 400 pára-raios de aço inoxidável. Nos três casos, os trabalhos - grandes arquiteturas ambientais - transformam a natureza e são por ela transformados, já que são eles mesmos modificados pela ação dos eventos naturais. Nessa mesma direção, é possível lembrar ainda obras como Observatory (1971/1977), de R. Morris, o Sun Tunnel (1973/1976), de Nancy Holt (1938), e Labirinth, de Alice Aycock (1946). Na Europa, as obras de Richard Long (1945) e Christo (1935) dialogam com a land art. Nos trabalhos de Long, as intervenções na natureza têm dimensões humanas: as obras acompanham os passos e o olhar do caminhante (Walking Line in Peru, 1972). Em Christo, novas soluções arquitetônicas são obtidas pelo empacotamento de monumentos célebres, como o da Pont Neuf, em Paris, 1985, ou pela ação sobre a natureza como em Valley Curtain (1972).
As obras de Richard Serra (1939) desenvolvem novas formas de relação com o ambiente, exploradas sobretudo pela intervenção no espaço urbano como em Tilted Arc (1981), gigantesca "parede" de aço inclinada colocada na Federal Plaza, Nova York (obra destruída). Outro desdobramento da arte ambiental como interferência nas cidades e em suas construções pode ser encontrado na escola californiana de Los Angeles - Robert Irwin (1928), James Turrell (1943), Maria Nordman (1939), Michael Asher (1943), entre outros -, que realiza um trabalho sobre o ambiente com a utilização de fontes luminosas artificiais.
No Brasil, experiências artísticas sobre o ambiente natural foram realizadas no interior do Projeto Fronteiras, desenvolvido pelo Itaú Cultural em 1999, quando nove artistas - Angelo Venosa (1954), Artur Barrio (1945), Carlos Fajardo (1941), Carmela Gross (1946), Eliane Prolik (1960), José Resende (1945), Nelson Felix (1954), Nuno Ramos (1960) e Waltercio Caldas (1946) - realizam intervenções em diferentes lugares das fronteiras do Brasil com países do Mercosul. Alguns trabalhos de Marcello Nitsche (1942) e de Nuno Ramos - Matacão (1996) - guardam relação com os projetos da arte da terra. No interior da obra de Antonio Lizarraga (1924-2009), verificam-se experiências com o ambiente na década de 1970, cujo primeiro resultado é Alternativa Urbana, realizado em parceria com Gerty Saruê (1930), que dá origem, entre outros, à intervenção artística na rua Gaspar Lourenço, Vila Mariana, em São Paulo, e ao projeto do Jardim Ecológico, elaborado em 1974, mas que não chega a ser realizado.