terça-feira, 20 de agosto de 2019

SURREALISMO


O termo surrealismo, foi criado por André Breton com base na ideia de estado de fantasia supernaturalista de Guillaume Apollinaire, traz um sentido de afastamento da realidade comum que o movimento surrealista celebra desde seu primeiro manifesto em 1924.

André Breton, autor do manifesto, o objetivo do manifesto é resolver a contradição entre sonho e realidade pela criação de uma realidade absoluta, uma supra-realidade. A importância do mundo onírico, do irracional e do inconsciente, anunciada no texto, se relaciona diretamente ao uso livre que os artistas fazem da obra de Sigmund Freud e da psicanálise, permitindo-lhes explorar nas artes o imaginário e os impulsos ocultos da mente.

O caráter anti-racionalista do surrealismo coloca-o em posição diametralmente oposta das tendências construtivas e formalistas na arte que florescem na Europa após a Primeira Guerra Mundial, 1914-1918, e das tendências ligadas ao chamado retorno à ordem. Como vertente crítica de origem francesa, o surrealismo aparece como alternativa ao cubismo, alimentado pela retomada das matrizes românticas francesa e alemã, do simbolismo, da pintura metafísica italiana Giorgio de Chirico, principalmente - e do caráter irreverente e dessacralizador do dadaísmo, do qual vem parte dos surrealistas. Como o movimento dada, o surrealismo apresenta-se como crítica cultural mais ampla, que interpela não somente as artes, mas modelos culturais, passados e presentes.

Na contestação radical de valores que empreende, faz uso de variados canais de expressão - revistas, manifestos, exposições e outros -, mobiliza diferentes modalidades artísticas como escultura, literatura, pintura, fotografia, artes gráficas e cinema.

A crítica à racionalidade burguesa em favor do maravilhoso, do fantástico e dos sonhos reúne artistas de feições muito variadas. Na literatura, além de Breton, Louis Aragon, Philippe Soupault, Georges Batalhe, Michel Leires, Max Jacob entre outros. Nas artes plásticas, René Magrete, André Maçon., Joan Miró, Max Ernst, Salvador Dalí, e outros.

Na fotografia, Man Ray, Dora Mar, Brasa. No cinema, Luís Buñuel. Certos temas e imagens são obsessivamente tratados por eles, com soluções distintas, como, por exemplo, o sexo e o erotismo; o corpo, suas mutilações e metamorfoses; o manequim e a boneca; a violência, a dor e a loucura; as civilizações primitivas; e o mundo da máquina. Esse amplo repertório de temas e imagens encontra-se traduzido nas obras por procedimentos e métodos pensados como capazes de driblar os controles conscientes do artista, portanto, responsáveis pela liberação de imagens e impulsos primitivos.

A escrita e a pintura automáticas, fartamente utilizadas, são formas de transcrição imediata do inconsciente, pela expressão do funcionamento real do pensamento como, os desenhos produzidos coletivamente entre 1926 e 1927 por Man Ray, Yves Tanguá, Miró e Max Morse, com o título O Cadáver Requintado). A protege [fricção] desenvolvida por Ernst faz parte das técnicas automáticas de produção. Trata-se de esfregar lápis ou crayon sobre uma superfície áspera ou texturização para "provocar" imagens, resultados aleatórios do processo, como a série de desenhos História Natural, realizada entre 1924 e 1927.

As colagens e assemblages constituem mais uma expressão caraterística da lógica de produção surrealista, ancorada na idéia de acaso e de escolha aleatória, princípio central de criação para os dadaístas. A célebre frase de Lautréamont é tomada como inspiração forte: Belo como o encontro casual entre uma máquina de costura e um guarda-chuva numa mesa de dissecção.

A sugestão do escritor se faz notar na justaposição de objetos desconexos e nas associações à primeira vista impossíveis, que particularizam as colagens e objetos surrealistas. Que dizer de um ferro de passar cheio de pregos, de uma xícara de chá coberta de peles ou de uma bola suspensa por corda de violino? Dalí radicaliza a idéia de libertação dos instintos e impulsos contra qualquer controle racional pela defesa do método da paranóia crítica, forma de tornar o delírio um mecanismo produtivo, criador.

A crítica cultural empreendida pelos surrealistas, baseada nas articulações arte/inconsciente e arte/política, deixa entrever sua ambição revolucionária e subversiva, amparada na psicanálise - contra a repressão dos instintos - e na idéia de revolução oriunda do marxismo (contra a dominação burguesa). As relações controversas do grupo com a política aparecem na adesão de alguns ao trotskismo (Breton, por exemplo) e nas posições reacionárias de outros, como Dalí.

A difusão do surrealismo pela Europa e Estados Unidos faz-se rapidamente. É possível rastreá-lo em esculturas de artistas díspares como Alberto Giacometti, Alexander Caldera, Hans Ar e Henry Spencer Moore.

Na Bélgica, Romênia e Alemanha ecos surrealistas vibram em obras de Paul Del Vaux, Victor Braune e Hans Elmer, respectivamente. Na América do Sul e no Caribe, o chileno Roberto Matta e o cubano Cifrado Liam devem ser lembrados como afinados com o movimento.

Nos Estados Unidos, o surrealismo é fonte de inspiração para o expressionismo abstrato e a arte pop.

No Brasil especificamente o surrealismo reverbera em obras variadas como as de Ismael Nery e Cicero Dias, assim como nas fotomontagens de Jorge de Lima. Nos dias atuais artistas continuam a tirar proveito das lições surrealistas.



Fontes de pesquisa

ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. Tradução Denise Bottmann, Frederico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

FER, Brin, BATCHELOR, David, WOOD, Paul. Realismo, Racionalismo, Surrealismo: a arte no entreguerras. Tradução Cristina Fino. São Paulo: Cosac & Naif, 1998. (Arte Moderna: práticas e debates, 3).

SURREALISMO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3650/surrealismo>. Acesso em: 09 de jul. 2019.

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