O Romantismo faz referência a uma visão de mundo que abrange
diversas áreas do conhecimento e setores da sociedade ocidental que anuncia uma
ruptura a estética neoclássica e com a visão racionalista da época da
Ilustração. O termo clássico significa ordem, equilíbrio objetividade. A
designação, romântico apela às paixões, às desmedidas e ao subjetivismo. A
dicotomia clássico/romântico, frequentemente acionada pelos historiadores da
arte, não deve levar ao estabelecimento de uma oposição radical entre os
termos, já que as diferentes orientações se combinam em diversos artistas.
Por exemplo, as pinturas visionárias e fantásticas do inglês
William Blake (1757 - 1827), indica Giulio Carlo Argan, ainda que próximas ao
espírito romântico, tomam como modelo as formas clássicas. É possível também
pensar as noções, como fazem alguns críticos, como orientações mais gerais,
descoladas de localizações cronológicas marcadas, o que levaria a distinguir
tendências "clássicas" ou "românticas" em diferentes
épocas. A oposição clássico/romântico permitiria explicar, no limite, o
desenvolvimento das artes e da cultura na Europa e Estados Unidos nos séculos
XIX e XX.
Tanto o clássico quanto o romântico são teorizados entre a
metade do século XVIII e meados do século XIX. O contexto onde as novas ideias
se ancoram é praticamente o mesmo: as contradições ensejadas pela Revolução
Industrial e pela Revolução Francesa que repercutem na redefinição das classes
sociais (nobreza, a burguesia em ascensão, o campesinato e operariado
nascente). O neoclassicismo parece coincidir com a Revolução Francesa e com o
império napoleônico, e o romantismo aparece mais diretamente ligado à ascensão
da burguesia e aos movimentos de independência nacional. O clássico é teorizado
pelo pintor e crítico Anton Raphael Mengs (1728 - 1779) e pelo historiador da
arte Johann Joachim Winckelmann (1717 - 1768), que defendem a retomada da arte
antiga, especialmente greco-romana, considerada modelo de equilíbrio, clareza e
proporção. À linha curva e retorcida dos estilos anteriores - o barroco e o
rococó -, o neoclassicismo opõe a retidão e a geometria. O romântico, por sua
vez, é sistematizado histórica e criticamente pelo grupo reunido em torno dos
irmãos Schlegel na Alemanha, a partir de 1797, ao qual se ligam: Novalis,
Tieck, Schelling e muitos outros. A filosofia de Jean-Jacques Rousseau (1712 -
1778) está na base das formulações românticas alemães e tem forte impacto no
pré-romantismo do Sturm und Drang [Tempestade e Ímpeto]. O que faz de Rousseau
um precursor do romantismo é o seu pessimismo em relação à sociedade e à
civilização, evidente no postulado de uma natureza humana pura, corrompida pela
cultura. Disso decorre a exaltação rousseauniana da natureza, da simplicidade
da criação, da nostalgia do primitivo e do culto do gênio original.
O cerne da visão romântica do mundo é o sujeito, suas
paixões e traços de personalidade, que comandam a criação artística. A
imaginação, o sonho e a evasão - no tempo (na Idade Média gótica) e no espaço
(nos lugares exóticos, no Oriente, nas Américas); os mitos do herói e da nação;
o acento na religiosidade; a consciência histórica; o culto ao folclore e à cor
local são traços destacados da produção romântica, seja na literatura de Walter
Scott, Chateaubriand, Victor Hugo e Goethe, seja na música de Beethoven, Weber
e Schubert. Nas artes visuais, o nome do alemão Caspar David Friedrich (1774 -
1840) associa-se diretamente às formulações dos teóricos do romantismo. A Cruz
nas Montanhas (1808), O Viajante Sobre as Nuvens (ca.1818) e Paisagem nas
Montanhas da Silésia (1815-1820), por exemplo, revelam uma natureza expressiva,
nada decorativa. As grandes extensões de mar, montanhas e planícies cobertas de
nuvens e/ou neblina que se estendem ao infinito, as rochas e picos, e o homem
solitário em atitude contemplativa, compõem a imagística do romantismo: a
natureza como locus da experiência espiritual do indivíduo, a postura
meditativa do sujeito, a solidão, a longa espera etc.
O paisagismo inglês de William Turner (1775 - 1851) e John
Constable (1776 - 1837) costuma ser incluído no rol da pintura romântica, a
despeito das distâncias em relação à vertente alemã e das soluções diversas
adotadas por cada um deles. Turner realiza telas de tom dramático, com forte
movimento e luminosidade (Naufrágio, 1805, Mar em Tempestade,1820). As
paisagens de Constable, por sua vez, tendem ao acento naturalista, ao tom
poético e ao pitoresco: são ambientes acolhedores, compostos de casas, águas,
nuvens etc. (A Represa e o Moinho de Flatford, 1811, A Carroça de Feno, 1821).
Na França, por sua vez, o impacto da revolução e o mito napoleônico se refletem
nos temas históricos e nas cenas de batalhas, amplamente exploradas pelos
pintores. Théodore Géricault (1791 - 1824), admirador de Michelangelo Buonarroti
(1475 - 1564) e do barroco, retoma o passado e a história em telas como A
Jangada da Medusa (1819). O quadro trata
de um naufrágio, ocorrido dois anos antes, e da luta desesperada dos
sobreviventes. O embate entre vida e morte e as relações hostis entre o homem e
a natureza se expressam no movimento dos corpos e da vela, enlaçados num mesmo
drama, que as formas revoltas das ondas e nuvens auxiliam a enfatizar. Eugène
Delacroix (1798 - 1863), maior expoente do romantismo francês, se detém sobre a
história política do seu tempo no célebre A Liberdade Guia o Povo (1850),
quando registra a insurreição de 1830 contra o poder monárquico. A liberdade,
representada pela figura feminina que ergue a bandeira da França sobre as
barricadas, é uma alegoria da independência nacional, tema fundamental para os
românticos. A imagem da luta aparece também na obra de Delacroix associada aos
temas bíblicos e religiosos (A Luta de Jacó com o Anjo, 1850-1861).
No Brasil, o romantismo tem raízes no movimento de
independência de 1822 e reverbera pela produção artística de modo geral,
assumindo contornos diversos nas diferentes artes e nos vários artistas. Na
literatura, podem ser lembrados os nomes de Gonçalves de Magalhães (1811 -
1882), José de Alencar (1829 - 1877), Gonçalves Dias (1823 - 1864), Álvares de
Azevedo (1831 - 1852) entre outros. Na música, os de Carlos Gomes (1836 -
1896), Elias Álvares Lobo e Alberto Nepomuceno (1864 - 1920). A localização de
uma tendência romântica na pintura histórica e acadêmica nacional impõe uma
análise mais apurada dessa produção específica, e diversificada, vista por
muitos intérpretes como realizada exclusivamente em moldes neoclássicos. Se
neoclassicismo e romantismo se combinam em diferentes artistas europeus, como
dito no início, o mesmo se verifica entre nós. Nas composições de Victor
Meirelles (1832 - 1903), por exemplo, observam-se afinidades com o espírito
romântico de Géricault e Delacroix.
Fontes de pesquisa
ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos
movimentos contemporâneos. Tradução Denise Bottmann, Frederico Carotti. São
Paulo: Companhia das Letras, 1992.
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