O cinema no Maranhão foi inaugurado pela chegada da máquina Cronofotógrafo
criada por George Demeny em 1898, três anos depois que os irmãos Lumière
fizeram a histórica apresentação do seu “Cinematógrafo”, no dia 28 de dezembro
de 1895, num salão do Grand Café do Boulevard des Capucines, em Paris (FOIRET;
BROCHARD, 1995).
O Cronofotógrafo, assim como o Bioscópio, o Vitascópio, o
Eidoloscópio, o Fantoscópio outras máquinas perderam lugar para o Cinematógrafo.
Essas máquinas eram geralmente levadas para os lugares pelos ambulantes. Barro
(2000) afirma que através dos ambulantes elas se espalharam por diversas
localidades: Manaus, Maceió e Juiz de Fora, Niterói, Curitiba, Campinas,
Mococa, Salvador, Ribeirão Preto, Petrópolis e João Pessoa, em 1897; Belo
Horizonte, Bragança Paulista, Natal, Aracaju e Araras, em 1898; as grandes
cidades do Vale do Paraíba, em 1899. Antes, porém, ele já tinha chegado ao Rio
de Janeiro, em meados de 1896, e em São Paulo, em fevereiro de 1897, como
registra Vicente de Paulo Araújo, em dois estudos preciosos, respectivamente:
“A bela época do cinema brasileiro” (1985) e “Salões, circos e cinemas de São
Paulo” (1981). A projeção do Rio, inclusive, é considerada por todos os
historiadores da arqueologia do cinema como a primeira do Brasil e da América
do Sul.
Foi um desses ambulantes que chegou a São Luís com o seu
Cronofotógrafo, apresentando espetáculos noturnos e diários por 45 dias, numa
sala em frente ao Teatro São Luiz, hoje Arthur Azevedo, O proprietário e
empresário da diversão era Moura Quineau, antigo fotógrafo. Moura Quineau foi o
responsável por iniciar o cinema Ambulante, em São Luís (e, por extensão, no
Maranhão. Este ciclo perdurou por 11 anos e foi formado por 14 aparelhos
cinematográficos.
O italiano J. Fillipi chegou em São Luís em 1902, quatro
anos depois que Moura Quineau deixou a cidade com o gosto da novidade do
cinema. Foi o segundo aparelho cinematográfico a ser visto na capital. E, a
julgar pelo que disseram os jornais locais (MATOS, 2016), o de maior qualidade
técnica e, por conseguinte, de melhor espetáculo. Era a lógica do período os
espetáculos culturais terem São Luís na rota das suas apresentações pelo
Norte-Nordeste. Isso porque os navios que os traziam vinham de Fortaleza e
passavam por São Luís, subindo até Belém e Manaus, ou na direção oposta. O
Bioscópio Inglês foi o primeiro aparelho cinematográfico do Teatro S. Luiz,
inaugurando uma tradição de espetáculos desse tipo naquele palco. Antes, como
dissemos, o Cronofotógrafo de Moura Quineau ocupou uma sala em frente ao
Teatro, pelo fato de este estar, na época da estreia do seu aparelho na de ocupado
pela prestigiada companhia teatral Dias Braga, nacionalmente conhecida (MATOS,
2002).
Foi Meliès quem inventou a narratividade do cinema. Antes
dele, os filmes não eram a atração do espetáculo e, dessa forma, podiam ser
apresentados em sequência, enquadrados em qualquer temática, cortados para
fazerem dois ou mais, muitos inclusive eram rodados em sentido contrário, para
provocar graça na plateia, pois nessa primeira fase o que interessava era o
funcionamento da máquina ó para não esquecer: os espetáculos eram “de
Cinematógrafo”, “de Bioscópio”, de “Aletorama” a máquina sempre em evidência, como a grande
novidade; os filmes eram apenas os recursos para fazê-las funcionar... Outro
detalhe importante em toda a fase desse primeiro cinema era que a grande
maioria dos espetáculos, os aparelhos ficavam à mostra do público, que se
impressionavam em ver o seu funcionamento. Nos espetáculos dados pelos
aparelhos no Teatro S. Luiz, eles ficavam no centro do palco .
O Bioscópio Inglês do senhor José Filippi, ao que tudo
indica, tinha a característica de ser uma máquina reversível. O registro que
ficou da sua passagem , datada de 29 de julho de 1902. Era um registro da festa
da noite anterior, no Teatro S. Luiz, em comemoração à adesão do Maranhão à
Independência do Brasil. Ao que tudo indica,
[...] Antes de dar comêço ao terceiro acto que foi de
Bioscopio Inglez o sr. Filippi, fez
descer um panno no qual havia a seguinte saudação: se com o patriotico publico
o pela data brilhante que hoje festeja. O primeiro quadro exhibido foi o do
grupo da Oficina dos Novos sendo secundado por tres retratos de brasileiros: Augusto
Severo, João de Deus e Benjamin Constant. (O FEDERALISTA, 29 jul. 1902, s.p.).
Esta filmagem provavelmente é a primeira feita em terras
maranhenses, porque, antes do Bioscópio, como vimos, apenas o Cronofotógrafo de
Démeny havia sido exibido em São Luís, e não há nenhum registro de tomadas de
vistas mesmo que, simultaneamente, o Cinematógrafo Alemão, do senhor Bernard
Bluhm, tenha sido exibido com o Bioscópio, este vinha a ser um aparelho de
muito má qualidade, a julgar pelos infortúnios que os jornais noticiava dos
cancelamentos dos espetáculos anunciados
Desta forma, há uma possibilidade muito real de ser mesmo
aquele retrato filmado da Oficina dos Novos o primeiro “filme” maranhense. A
Oficina dos Novos era, na época, a principal agremiação literária da capital,
formada por escritores de liderada por Antônio Lobo, professor, jornalista e
intelectual, que, seis anos depois, fundaria a Academia Maranhense de Letras. É
Martins (2006) quem nos esclarece alguns dos membros da Oficina: Antônio Lobo,
Fran Pacheco, Astolfo Marques, João Quadros, Nascimento Moraes, dentre outros.
Era bastante comum, por essa época, que os cinematógrafos
tomassem parte em eventos cívicos, festas religiosas de largo, efemérides
públicas. E, normalmente, eram exibidos como uma parte da atração geral. Como
foi o caso do Bioscópio na noite das comemorações alusivas ao 28 de julho, em
que ele compôs o terceiro ato.
Foi também em uma festa pública que ocorreu a primeira
filmagem feita por um projecionista maranhense, o senhor Rufino Coelho, que deu
apresentações do seu nematógrafo Parisiense em duas ocasiões: de 28 de agosto a
11 de setembro de 1906 e de 20 a 23 de abril de 1907.
Era o segundo registro de filmagens do ciclo do cinema
ambulante no Maranhão. E o derradeiro. Outras notícias de filmes maranhenses só
serão dadas depois de 1910, quando então São Luís entra em outra fase: a dos
cinemas como salas de espetáculos, período registrado por Euclides Moreira Neto
no seu livro “Primódios do Cinema em São Luís” (1977).
REFERÊNCIA
ARAÚJO, Vicente de Paula. A bela época do cinema brasileiro. Brasiliense,
1985.
BARRO, Máximo. Na trilha dos ambulantes. São Paulo: Editora Maturidade, 2000.
CAPELLARO, Jorge, J.V; FERREIRA,
Paulo Roberto. Verdades sobre o início
do cinema no Brasil. Rio de Janeiro: Funarte, 1996.
FOIRET, Jacques; BROCHARD, Philippe.
Os irmãos Lumière e o cinema. Augustus,
1995.
MOREIRA NETO, Euclides Barbosa. Primórdios do cinema em São Luís. Cineclube
Uirá, 1977.
O FEDERALISTA. São Luís, 15 jul.
1902, s.p.
PACOTILHA. São Luís, 09 abr. 1898,
s.p.
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